... ÀS COISAS INSIGNIFICANTES

Por Robson Fagundes

Esse era meu patrão! Desde os tempos do pau-de-arara já levantava às seis horas e ia dormir às doze! Trabalhou a vida toda para apagar da lembrança a seca que presenciara na infância. Dos filhos o primeiro lhe veio aos dezessete. Depois o segundo... E logo, o terceiro. O primeiro foi um menino muito doentinho que sobreviveu à custa de muito empenho do homem. As outras duas crianças eram mulheres que viriam a casar com homens que, de tão cozidos nem a preguiça, invejosa que só ela, fazia questão de ser amiga deles! Logo viriam os netos. Estes, fingindo de inocentes! A cada visita eram dez, quinze, vinte reais! Já a mulher do pobre homem nem se tem tanta informação a dar. Aquela era que só o diabo! Quando falava parecia usar alto-falante. Pobre homem do pau-de-arara. Quando veio para o sul sonhava fazer fortuna. Conseguiu uma pequeníssima parcela dela. Trabalhou, ganhou algum dinheiro, construiu o tão sonhado mercadinho e ali ficou... Manhãs, tardes, noites... Até o último suspiro de vida! Ter o que deixar para seus filhos era sua meta, seu suor, sangue; já virara sina! Até que, num belo dia daqueles que se escolhe para morrer, ele morreu! Cada um ficou com uma parte do mercadinho, da casa, do caminhão de entregar compras que ele deixou. Pois foi só passar o velório, o enterro, a missa de sétimo dia, que partiram todos para cantos diferentes e não deram mais notícias. O mercadinho, vendido, agora era ruínas molhadas pelo suor de anos de trabalho. Pobre homem! Fazer tanto para tanto esquecimento. O que fez o homem estava feito! Do esforço – se valeu alguma coisa – só o fantasma das ruínas poderia responder. Mas deixemos dessa conversa besta. Fantasmas não existem!

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